Caro leitor, não sei se você é daqueles que pula o prefácio e vai logo para o texto do livro, o que é mais comum do que se pensa, principalmente quando se trata de livro de direito. Bem, se você for desses, adeus, mas o equívoco não está em pular o prefácio, e sim em pensar que este é um livro tão somente de direito.Sim, o livro do José Renato Prata é resultado de sua pesquisa de mestrado na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, portanto tinha tudo para ter aquele linguajar chato, aparentemente técnico, que chamam juridiquês, mas não tem, é um texto claro, objetivo e sincero. E esse é o primeiro ponto que o afasta de um livro exclusivamente de direito.O segundo é que o livro do José Renato faz história do presente, uma história importante porque sobre um assunto que diz respeito à vida de milhões de pessoas que morrem ou estão ameaçadas todo dia por causa dessa política genocida de guerra às drogas.O terceiro ponto é a própria política, para além da história, e não só a política de saúde pública, mas a política de segurança, a política em que está inserido o direito, a política do corpo, a política da vida, a política de morte, tudo a envolver o trabalho que hoje é apresentado como livro.(...)Cada vez fica mais claro estar a superação dessa guerra violenta e desigual vinculada ao reconhecimento, pelo menos no Brasil, dos efeitos medicinais da maconha e, nesse caminho, o conhecimento deve ser o nosso principal aliado. Não se pode esquecer que as pessoas necessitadas da cannabis como remédio devem agradecer também aos que, no mundo todo, lutam pela descriminalização da cannabis chamada recreativa, seja por terem mantido a luta pela descriminalização sempre viva, seja pelos estudos com a planta, seja pelos próprios depoimentos pessoais a afastar o estigma construído em cem anos de história do proibicionismo.Luís Carlos Valois(Do Prefácio)